Quando introduzimos este selim no país, não imaginávamos a proporção que o modelo tomaria no mercado brasileiro. Considerado por muitos um dos melhores selins do mundo, foi utilizado por diversos atletas de elite e milhares de amadores que (assim como nós) buscavam “tirar algum peso”. O primeiro contato visual com o selim sempre traz desconfiança – seja pela anatomia “pontuda”, ou pela falta de estofado. Acontece que, assim como num verdadeiro conto de fadas, quem ousa experimentar este modelo costuma ser positivamente surpreendido pelo conforto e pelo encaixe preciso.
O grande segredo do selim é o material (além da fibra de carbono e do kevlar nos trilhos): Alcântara. Apesar das aparências, não é camurça. Alcântara é na verdade um tecido sintético, desenvolvido na década de 1970 por um químico japonês e fabricado por uma empresa italiana chamada… isso mesmo, Alcântara.
No assento e no volante, ele oferece mais aderência do que o couro. Também não esquenta como couro, nem como outros tecidos (que encharcam depois de várias horas com um motorista suado sentado). Cobrindo um painel, não lança reflexos no para-brisas, e algumas variantes ainda são retardantes de chamas. É muito mais resistente que a camurça, fácil de limpar e agradável ao toque – no entanto, vai se desgastar com o uso pesado. Os volantes revestidos de Alcântara, em particular, acabarão desgastando e ficando brilhantes. O m2 de Alcântara de boa qualidade custa em torno de 600 euros (cerca de R$3.600,00 na conversão atual). Por suas qualidades, logo se tornou o estofamento de escolha para o interior de carros de corrida. Em seguida, os fabricantes de carros de rua perceberam que um pouco de Alcântara no interior de seus modelos esportivos trazia uma certa credibilidade do automobilismo, ajudando nas vendas.
No ciclismo, o mundo conhece o Speedneedle como sendo uma criação da marca Tune (que é o distribuidor exclusivo há 25 anos). Mas ao contrário do que muitos pensam, a criação e produção da peça é até hoje obra do alemão Jürgen Mikus – por isso “JM” – (a Tune compra sua produção artesanal e revende). Recluso e tímido, ele não dá entrevistas e não aparece nas notícias ciclísticas. Em 2008, após me deparar com o selim pela primeira vez, não sosseguei até conseguir o meu e trazer para o Brasil. Ele chamou a atenção de imediato, e subitamente ocorreu uma chuva de pedidos brasileiros através de diversos canais de compras. Intrigado com esse aumento na demanda, Mikus questionou os revendedores e acabou conhecendo o Weight Weenies BR. Por este motivo, num evento próximo à sua casa/fábrica, recebi um convite e tive o imenso prazer de conhecê-lo e entrevistá-lo. Ele e a esposa são pessoas fantásticas – fechados como qualquer alemão, mas repletos de curiosidade com o porquê de tantos brasileiros quererem os selins produzidos por eles. Se mostraram gratos pelo apoio e pelo reconhecimento do carinho que depositam em cada peça.
O intuito desta reportagem hoje é contar um pequeno segredo. Há alguns anos a Tune, que também é patrocinadora da campeã olímpica Sabine Spitz, criou com Mikus um modelo exclusivo para ela, que nunca foi comercializado para o público. Este modelo contém “asas” ressaltadas (um recuo na parte traseira central) para trazer mais conforto e menos pressão na região. Qual não foi a minha surpresa quando, como forma de agradecimento, recebi um selim personalizado com aquele shape especial igualzinho ao da Sabine, e com uma dedicatória. É um dos itens que, com um ciúme imenso, guardei à sete chaves por todos estes anos – e que agora compartilho aqui. “Rafio”, na dedicatória, é como os alemães com carinho sempre escolheram me chamar.
Tão especial também é o peso, esta edição não tem 87g apesar do “adesivo padrão”. Uma pequena adição que vale “cada grama”.